Aime moi moins, mais aime moi longtemps

Saía desesperado para te encontrar
sentir seus braços, escutar a sua voz
apenas porque eu sabia o que vinha depois

As noites mal dormidas
indo de um corpo ao outro
sem querer saber a resposta

Depois de saciado,
esperava apenas o abraço
que somente o seu corpo
poderia me renegar

A court de tout a bout de moi
Je suis revenu chez toi

As horas andavam regressivamente
todos os dias, todos os dias
suava apenas em pensar
que poderia ser livre finalmente

Moi je voulais juste un corps
je cherchais seulement des bras
un lit de reconfort des delices sous les draps

Sinceramente, brinquei desde o começo
sentindo o seu gosto, o seu cheiro
e era isso que me mantinha
preso aos seus lençois

mais helas au lieu de ca
J’ai cru entendre Je t’aime

Foi aí que vi
que num corpo poderia confiar
me desprendi de teus lençóis
e me joguei pra dentro de ti

Etre un corps je suis d’accord
T’offrir mes bras pourquoi pas

Meus pensamentos se perderam
neste emaranhado de sentimentos
o que eu era saiu de mim
sem nem ao menos me pedir

Mon lit ok encore
pour rire a salir les draps

E eu que achava que seria livre
me vi acorrentado aos seus lençóis
Por mais imóvel que eu fiquei
amei pela primeira vez

mais je crains que pour tout ca
Tu doives entendre je t’aime

Creative Commons License
por Thiago Carrapatoso

As flores não cheiram

Os cheiros são o problema
Quando acordava, não escutava nada
sentia o café e o pão na mesa da sala
o banheiro úmido e o bafo do perfume
as meias do irmão jogadas no chão
o suor de outro dia na cueca maltrapilha

As imagens são o problema
os ônibus lotados de homens amedrontados
os cartazes nas ruas pedindo o fim de uma ditadura
as pedras e facas eram as únicas armas
papai preparava os comunistas da Iugoslávia
enquanto mamãe orava pela pátria

Os sons são o problema
vovó urrava quando o cachorro voltava
as bombas trovejavam e as nuvens se multiplicavam
meu irmão tossia de tanto pó pois não chovia
os militares cuspiam metais e os mortos caíam
meu tio cantava hinos para limpar nossos ouvidos

Mesmo há dez anos longe do meu país
ainda sinto como se vivesse por ali

o preço pela minha liberdade
é o mesmo causado pela saudade

Nunca pertencerei a outro lugar
meus sentidos me lembram de onde deveria estar
mas minha família decidiu que eu não iria lutar

Olho para a cultura dos meus vizinhos
e choro pela falta de caminhos
que escolheram que eu deveria ter de ninho

Há dez anos espero pelo dia
em que a luta dará lugar à calmaria
e, então, pela primeira vez, sorriria

Creative Commons License
por Thiago Carrapatoso

Lacrimosa

Vem pra cá ver
O olho se entumescer
Meu subterfúgio acabou
O pranto vai desandar
Se eu tomo um tombo daqui
Eu tomo um repouso de lá
E o que eu queria fazer
Era virar tempestade
Mas sem me gastar

Amanhã
Se de repente o sol inventar que vai nascer
Eu troco minhas notas de dez e enriquesço de vez

Depois
Se de repente o sol inventar que vai nascer
Eu tomo esse trem das quinze pras seis e te reinvento por lá

Tentei te ver
O choro me atrapalhou
Você que nem percebeu
Desiste de interpretar
Vem logo me desatar
Eu faço um café pra você
Te compro um poema também
E enrolo seus cachos nos meus
Pra te esquentar

Amanhã
Se de repente o sol inventar que vai nascer
Eu troco meus choros de vez por uma desculpa e um sofá

Depois
Se de repente o sol inventar que vai nascer
Mas hoje eu não deixo a tristeza de lado, não, e fico assim, assim

Creative Commons License
por Daniela Silva

Neblina

Vai, não se esconda
venha até mim
abra a sua boca
o máximo que conseguir
e me engula inteira

Encolherei minhas patas
mostrarei as minhas teias
molharei o caminho
e ali te esperarei

Quero me esmagar
entre os seus dentes

Não fuja de mim
não se assuste
não me esqueça

Vai, me deixe à toa
desista, enfim
ficarei aqui na boa
enquanto puder desistir
de suas garras traiçoeiras

Enrugarei meu dorso
trairei a natureza
enfrentarei o meu estômago
e ali te suplicarei

Quero me encontrar
entre os meus entes

Não vou me trair
não me intimide
não me enrusta

Creative Commons License
por Thiago Carrapatoso

Turbilhão

O mundo em um pequeno pingente
rodava, rodava, rodava
em frente a seus dois olhos famintos
um mar de possibilidades
pensava
em um sonho, se viu grávida de futuro
era ali que a vida começaria
rodava, rodava, rodava
a mente em pensamentos
o turbilhão da vida
que se esvai da mesma forma que chega
o aborto foi mais espôntaneo do que imaginava
e o futuro desceu por um ralo

Creative Commons Licensepor Thiago Carrapatoso

Suas estratégias

Não sei até que ponto
sumir pode ser bom
Lembro de você em outros versos
que você tanto renegou

Te vi em um desses filmes
em que a palavra de ordem
de um triângulo é
je t’aime

As palavras de um livro
me lembraram aquele dia
único, em que tudo deu certo
enquanto você dormia

São nestes momentos
que eu vejo o quanto estou vazio

All my plans fell through my hands
They fell through my hands on me
All my dreams it suddenly seems
Empty

Como você está?
O que mudou desde lá?
Quem, agora, você diz amar?

As lembranças claro que atordoam
são só as dúvidas que nunca te perdoam

Houve amor entre nós?
Éramos uma dupla ou sempre estavamos a sós?

A sinceridade nunca saiu de seus lábios
apenas palavras vazias
que anunciavam o nosso naufrágio

Something has left my life
And I don’t know where it went to
Somebody caused me stripe
And it’s not what I was seeking

——–

Então, esta eu acho melhor nem usar porque os versos em inglês são da música Empty [esta versão também é boa], do The Cranberries, então, trechos dela estão sob copyright

Creative Commons Licensepor Thiago Carrapatoso

Deduzo

Te disse uma vez
que nada daria certo
Vivi intensamente
receiando que o tempo chegasse

Sabia o nome, a cor, o gosto
de quem te levaria para longe de mim
suspirei a ausência de forças
de te manter por aqui

Vamos dormir?, você pedia
Vamos amar?, eu suplicava
Vamos sair?, você renegava

As conversas eram apenas sinais
de que o tempo estava errado
Confiei nas suas desculpas
mas não pude deixá-las de lado

As cordas do violão seguraram a minha voz
te vi nas mãos de outro entre risos e nós
Os versos cobriam os meus ouvidos
para que não vazassem de dor

Vamos sair?, eu pedia
Vamos amar!, você afirmava
Vamos dormir., eu desistia

Não me venha mais chorando
Não peça mais desculpas
Não questione a minha decisão
Para tanto, só fico com uma questão:

Deduzo, então, o amor acabou?

——-

Nessa, só peço para não mudar o último verso

Creative Commons Licensepor Thiago Carrapatoso